Ainda Lima Barreto. Chico Salles, membro da confraria, tinha esse cordel feito desde muito cedo para a Casa. De quebra tem a história da organização da confraria.
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Chico Salles
Falar de Lima Barreto
Nos Conduz a claridade
Odiosa opressão
Da nossa sociedade
Dotada de incoerência
Apogeu da incompetência
Falta de brasilidade.
Final do século dezoito
Antes da Abolição
Nasceu este carioca
Fruto da escravidão
Trazendo na consciência
Na conduta e aparência
A sua indignação.
Estudante exemplar
Às suas origens, fiel
Mulato de boa instrução
Mas, o racismo cruel
Feito a ponta do espinho
Estreitava seu caminho
Limitava seu papel.
Vitima do preconceito
Mal conseguiu se formar
Perdeu os pais muito cedo
E cedo foi se virar
Fez das letras sua amante
Como cronista brilhante
Serviu sem ser militar.
Escrevia em periódicos
Assumindo pseudônimo
Jornal do Comercio, a Noite
Já não era mais anônimo
Assim na Literatura
Com sapiência e bravura
Tornar-se-ia sinônimo.
Tratava do dia a dia
Dos assuntos do seu povo
Sua expressão literária
Demonstrava algo novo
Foi sim um pré-modernista
Inconformado artista
E para elite um estorvo.
Pra alma do Carioca
Foi seu maior escultor
Falava dos preconceitos
Com certeza e com vigor
Retratou a hipocrisia
Contrário à burguesia.
Lima mostrou o seu valor.
“Numa e a Ninfa”, escracha
Mais um deputado bandido
Em “Cemitério dos Vivos”
Narra momentos sofridos
A pena do Lima não para
Corta rente, fura, vara
Em favor dos oprimidos.
Entregou-se ao alcoolismo
Com várias internações
Problemas psiquiátricos
Entrou nas suas ações
Precocemente morreu
O mundo não compreendeu
As suas preocupações.
Depois, no andar de cima
Passou a ser estudado
Sua obra se tornou
Um produto exportado
Viveu a vida sem medo
E até com samba enredo
Já foi homenageado.
É comparado aos maiores
Um menestrel suburbano
Em Policarpo Quaresma
O conceito soberano:
Pra tirar ouro de cobre
Basta ser mulato, pobre
E avesso ao desengano.
Escreveu por linha certa
A tortura descabida
Seu legado, sua obra
Sua história, sua vida
Que de grandeza encanta
Ficou feito quem decanta
Pelo Brasil esquecida.
No cenário onde viveu,
Final dos anos oitenta
Uma turma da pesada
Turma ligada e atenta
No subúrbio da cidade
No bairro da Piedade
A liberdade alimenta.
Músicos, escritores, artistas
Pimenta, cebola e jiló
No Boteco do Seu João
No caldo do Mocotó
Um encontro sem procura
Muita fome de cultura
Esperança sem ter dó.
Na concentração do Bloco
Simão, DaPenha e Carlinho
Mandaram uma idéia
De ser feito com carinho
Uma casa ou um coreto
Na Rua Lima Barreto
Que era ali bem pertinho.
A casa Lima Barreto
Ali então foi criada
Num ambiente festivo
Comida, cerveja gelada
Samba na mão e no pé
Criança, marmanjo e mulher
Muita conversa animada.
Foi alugado um imóvel
Assim na raça e no peito
Com muita dedicação
Birita, piada e respeito,
Depois daquele carnaval
O Espaço Cultural
Estava montado direito.
Com o esforço do grupo
E mais alguns aliados
A casa funcionou
Mais de dez anos passados
Quando em dois mil e dois
Nem foi antes, nem depois
Teve seus portões fechados.
A falta do Poder Publico
Refém da corrupção
Junto com a pouca renda
Da nossa população
Pelos guetos oprimida
Sem o saber, desnutrida
É triste a constatação.
Mesmo assim lá vai ele
Abnegado, paciente
O Grupo do grande Lima
Pacífico e consciente
Original, radiante
Agora é itinerante
Agregado permanente.
Movido a muita paixão
Rango, manguaça e conversa
Musica tocada e cantada
A poesia se versa
Deixando a alma lavada
A mente bem arejada
Fui, que a minha hora é essa.
Biografia e revisões: SIMÃO.
capa do Ciro de Uriaúna
FONTE
https://piauinauta.blogspot.com.br/2011/03/cordel-pro-lima-barreto.html