quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Companheiros de Jornadas - Crônica * Antonio Cabral Filho - Rj

Companheiros de Jornadas
Gente, vocês não imaginam a 
Gente, vocês não imaginam a alegria, o frisson, a euforia que pinta quando se encontra um "igual", alguém que está por aí, sem eiras nem beiras, igualzinho a você. Vejam acima o painel, olhem que chamada bonita: Bruzundanga Way of Life! Lindo, não é? É o "up!" não é mesmo? Pois é, nas pesquisas que ando fazendo sobre o Lima Barreto já encontrei cartão postal homenageando seus personagens e um montão de outras coisas, mas jamais imaginaria esbarrar com um blog dedicado ao "espírito Lima Barreto", àquela acidez crítica própria do nosso "spleen belle epoque carioca" sem Baudelaire nem Rimbaud para colonizar nossas almas.

O blog é específico de crônicas, todas baseadas no modo de vida carioca, no jeitão colonizado do carioca, na mania de copiar coisas e hábitos estrangeiros, principalmente norteamericanos, tais como o frango frito com aquela farinhada do fast food, o baldão de pipoca com garrafão de refrigerante nos cinemas, as mãos e os bolsos cheios de eletroeletrônicos de procedência, digamos, no mínimo, inconfessáveis, e a língua solta proferindo impropérios nunca dantes ouvidos em idioma algum; as pessoas se transfigurando em personagens de programas de auditório, como homens e mulheres amarfanhados de plásticas, rostos cobertos de produtos da indústria de cosméticos, cabelos sempre louros e muitas idosas, mas muitas mesmo, cantando alto e a bom som: mulher não fica velha, fica loura!

Pena é que Elke Maravilha, Clovis Bornay e Dercy Gonçales já partiram, Elza Soares não perdeu o pique, e Ney Matogrosso está velho, mas eles ainda ganham dessa gente em originalidade. Sobre a política e seus personagens nem se fala...

Mas pena é que o blog ficou lá em 2010, creio eu que devido à velhice da "Cobra Velva" que deve sim ter se aposentado de suas peripécias ao logo de sua história, seja pela vida real seja pela fictícia e decidido não mais ilustrar o peito de tantos maníacos por tatuagens, nem decorar os carros e motos dos aloprados de todos os tempos. Seja como for, descanse em paz Cobra Velva, pois apenas com três crônicas, você já é um clássico das línguas ferinas da literatura nacional. Agora, vamos lá meu amigo navegante:
http://bruzundangawayoflife.blogspot.com.br/ 
***

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Cordel Lima Barreto / Chico Salles * Antonio Cabral Filho - RJ



Ainda Lima Barreto. Chico Salles, membro da confraria, tinha esse cordel feito desde muito cedo para a Casa. De quebra tem a história da organização da confraria.

__________________________________

Chico Salles 


Falar de Lima Barreto
Nos Conduz a claridade
Odiosa opressão
Da nossa sociedade
Dotada de incoerência
Apogeu da incompetência
Falta de brasilidade.

Final do século dezoito
Antes da Abolição
Nasceu este carioca
Fruto da escravidão
Trazendo na consciência
Na conduta e aparência
A sua indignação.

Estudante exemplar
Às suas origens, fiel
Mulato de boa instrução
Mas, o racismo cruel
Feito a ponta do espinho
Estreitava seu caminho
Limitava seu papel.

Vitima do preconceito
Mal conseguiu se formar
Perdeu os pais muito cedo
E cedo foi se virar
Fez das letras sua amante
Como cronista brilhante
Serviu sem ser militar.

Escrevia em periódicos
Assumindo pseudônimo
Jornal do Comercio, a Noite
Já não era mais anônimo
Assim na Literatura
Com sapiência e bravura
Tornar-se-ia sinônimo.

Tratava do dia a dia
Dos assuntos do seu povo
Sua expressão literária
Demonstrava algo novo
Foi sim um pré-modernista
Inconformado artista
E para elite um estorvo.

Pra alma do Carioca
Foi seu maior escultor
Falava dos preconceitos
Com certeza e com vigor
Retratou a hipocrisia
Contrário à burguesia.
Lima mostrou o seu valor.

“Numa e a Ninfa”, escracha
Mais um deputado bandido
Em “Cemitério dos Vivos”
Narra momentos sofridos
A pena do Lima não para
Corta rente, fura, vara
Em favor dos oprimidos.

Entregou-se ao alcoolismo
Com várias internações
Problemas psiquiátricos
Entrou nas suas ações
Precocemente morreu
O mundo não compreendeu
As suas preocupações.

Depois, no andar de cima
Passou a ser estudado
Sua obra se tornou
Um produto exportado
Viveu a vida sem medo
E até com samba enredo
Já foi homenageado.

É comparado aos maiores
Um menestrel suburbano
Em Policarpo Quaresma
O conceito soberano:
Pra tirar ouro de cobre
Basta ser mulato, pobre
E avesso ao desengano.

Escreveu por linha certa
A tortura descabida
Seu legado, sua obra
Sua história, sua vida
Que de grandeza encanta
Ficou feito quem decanta
Pelo Brasil esquecida.

No cenário onde viveu,
Final dos anos oitenta
Uma turma da pesada
Turma ligada e atenta
No subúrbio da cidade
No bairro da Piedade
A liberdade alimenta.

Músicos, escritores, artistas
Pimenta, cebola e jiló
No Boteco do Seu João
No caldo do Mocotó
Um encontro sem procura
Muita fome de cultura
Esperança sem ter dó.

Na concentração do Bloco
Simão, DaPenha e Carlinho
Mandaram uma idéia
De ser feito com carinho
Uma casa ou um coreto
Na Rua Lima Barreto
Que era ali bem pertinho.

A casa Lima Barreto
Ali então foi criada
Num ambiente festivo
Comida, cerveja gelada
Samba na mão e no pé
Criança, marmanjo e mulher
Muita conversa animada.

Foi alugado um imóvel
Assim na raça e no peito
Com muita dedicação
Birita, piada e respeito,
Depois daquele carnaval
O Espaço Cultural
Estava montado direito.

Com o esforço do grupo
E mais alguns aliados
A casa funcionou
Mais de dez anos passados
Quando em dois mil e dois
Nem foi antes, nem depois
Teve seus portões fechados.

A falta do Poder Publico
Refém da corrupção
Junto com a pouca renda
Da nossa população
Pelos guetos oprimida
Sem o saber, desnutrida
É triste a constatação.

Mesmo assim lá vai ele
Abnegado, paciente
O Grupo do grande Lima
Pacífico e consciente
Original, radiante
Agora é itinerante
Agregado permanente.

Movido a muita paixão
Rango, manguaça e conversa
Musica tocada e cantada
A poesia se versa
Deixando a alma lavada
A mente bem arejada
Fui, que a minha hora é essa.


Biografia e revisões: SIMÃO.
capa do Ciro de Uriaúna
FONTE
https://piauinauta.blogspot.com.br/2011/03/cordel-pro-lima-barreto.html 


sábado, 2 de janeiro de 2016

Poesia e Movimento Negro/ Éle Semog * Antonio Cabral Filho - RJ

Poesia e Movimento Negro
Éle Semog

Poetas Negros, Movimento Negro e Alguma Vida

Introdução
No início da década de 1970, os escritores e escritoras negras viviam todas as espécies de solidão, mas duas delas eram mais aflitas, pois não se tratava de um lugar comum do ofício e o que é pior, se impunham à revelia da disponibilidade existencial de cada um.
Uma dessas solidões era provocada pelos escritos de gaveta, de emoções e sentimentos aprisionados, de verdades incertas, de certezas voláteis e silêncios exasperados; como se houvesse punição à força daquela criação que não se desnudava. Outra dessas solidões se traduzia na participação singular nos grupos literários formados por maioria de autores brancos, onde o texto, sempre que quando negro, negritude, negrícia, extrapolava a coisa literata e de modo inexplícito vagava no limbo de uma atitude social nem sempre provida de sutileza. Algo assim como um boi da cara preta e nada mais que isso, ou um Pelé, e nada mais que isso, naquela literatura que praticávamos.
Vide mais...
http://elesemog.com.br/w/literatura/16-artgos-e-ensaios 
***